ANGLICISMOS CABOTINOS

Você Privilegia Nosso Riquíssimo Vernáculo?

Em inglês, o verbo transitivo "to borrow" é definido como "to take something with the promise to return it", quer dizer, 'pegar uma coisa com a promessa de devolvê-la'.

No idioma português, o equivalente a esse verbo inglês é 'tomar emprestado' ou 'pegar emprestado', cujo significado é o mesmo do verbo inglês. Porém, embora seja causa de muita controvérsia, alguns dicionários admitem a forma 'emprestar' – usada em algumas partes do Brasil e, portanto, um regionalismo – com o mesmo sentido de 'tomar emprestado'.

Automóvel, carrinho de mão, ferramentas, furadeira elétrica e, até mesmo, peças de roupa são exemplos de coisas que podem ser tomadas por empréstimo.

No mundo linguístico, no entanto, os falantes de determinado idioma podem decidir tomar como empréstimo uma palavra ou locução de outro idioma estrangeiro de forma arbitrária, unilateral, sem a necessidade de obter o consentimento dos falantes nativos do idioma estrangeiro e, muito menos, sem a promessa e, nem sequer, a data de devolução.

Por exemplo, no dia 17 de novembro de 1970, Douglas Engelbart, patenteou um dispositivo que ele definiu nas seguintes palavras: "X-Y position indicator for a display system" (indicador X-Y para sistema de exibição de informações).

Tratava-se de um dispositivo retangular, cujo invólucro era feito de madeira, com um botão no canto superior direito. O próprio criador desse dispositivo achava desconcertante referir-se a ele como 'indicador X-Y para sistema de exibição de informações' – de fato, um verdadeiro nome feio.

Não demorou muito e Engelbart percebeu que, como o fio saía pela parte de trás do dispositivo (veja figura acima), aquilo lembrava um camundongo com seu rabinho bem comprido. Daí, ele passou a se referir ao dispositivo como "mouse", um termo bem mais agradável e fácil de ser gravado.

E não deu outra. O termo pegou e, pouco tempo depois, todos os falantes da língua inglesa já haviam adotado o termo "mouse" para se referir ao dispositivo X-Y.

Passaram-se os anos e, com o advento do computador de uso pessoal, aquele dispositivo deixou de ser uma grande caixa retangular para assumir, de vez, o formato de um rato com seu rabinho comprido. E até hoje, todos os fabricantes de rato fazem questão de preservar esse formato.

 

Os primeiros brasileiros – tradutores ou técnicos? – que começaram a escrever sobre esse dispositivo resolveram – sabe-se lá por quê – preservar seu nome em inglês, "mouse", e não deram a mínima para o termo correto em português, 'rato'. Tomaram o termo inglês emprestado para nunca mais devolvê-lo!

Curiosamente, o mesmo ocorreu e continua ocorrendo com centenas de outros termos tomados por empréstimo da língua inglesa, que nunca foram devolvidos, pois, aparentemente, aqueles que introduzem anglicismos em nossa cultura devem achar que é mais chique – na realidade, uma falsa aparência de erudição – dizer, por exemplo "drone" em vez de 'zangão'.

(NOTA: O termo inglês "drone" foi escolhido para batizar aquela máquina voadora, exatamente, porque suas hélices produziam um zumbido semelhante ao de um zangão ao bater as asas).

Se, desde o início, tivéssemos tido o zelo de traduzir corretamente o termo "mouse" por 'rato', assim como, sabiamente, fizeram os portugueses, hoje todas as lojas de informática do Brasil venderiam ratos e almofadas de rato... e ninguém acharia estranho. Afinal, as palavras têm os significados que lhes são atribuídos!

Outro exemplo de anglicismo totalmente incabível e desnecessário é o termo abaixo para o qual muita gente – é isso mesmo, MUITA GENTE – até hoje, acha que não existe equivalente exato em português!

INTERNET,

Se você também acha que não temos nada em português que possa traduzir correta e apropriadamente o termo acima, você está redondamente enganado!

O termo português

INTER-REDE

é um equivalente exato e, portanto, a tradução correta que deveria ser usada por todos, principalmente, por nós, TRADUTORES.

É preciso lembrar aqui que nenhuma palavra tem significado em si – as palavras têm os significados que lhes são atribuídos!

Há alguma razão pela qual devemos usar o termo inglês PERFORMANCE se o equivalente em português (DESEMPENHO) tem o mesmíssimo significado? Há pessoas (alegadamente, eruditas) que chegam ao absurdo – sim, ao cúmulo da estupidez linguística – de usar o verbo PERFORMAR como se fosse sinônimo de DESEMPENHAR! Essas pessoas estão, literalmente, assassinando nosso vernáculo!

Agora, veja a figura abaixo. Você não teria a menor dificuldade de identificá-la, certo?

Trata-se de uma bolsa ou sacola.

Então, por que não usar BOLSA DE AR, em vez de AIRBAG? Digam-me, qual é o problema com a expressão BOLSA DE AR? Feia? Tem sonoridade antipática? A eufonia é negativa? Não vende? Ninguém saberia do que se trata?

Se isso fosse verdade, ninguém usaria NAVEGADOR como equivalente exato de BROWSER, pois aquela pessoa que – pela primeira vez – traduziu o termo BROWSER como NAVEGADOR, utilizou um termo da língua portuguesa perfeitamente adequado. Porém, há pessoas que ainda insistem em usar BROWSER!

Quantas vezes você tem ouvido as pessoas usarem o termo inglês COACH para se referir a um TREINADOR? Pessoas desavisadas ou cabotinas? Pessoas que gostam de se exibir ou parecer eruditas ou pessoas que não estão nem aí para a língua materna?

Essas são as mesmas pessoas que usam, indiscriminadamente, o termo inglês LIVE quando a expressão portuguesa TRANSMISSÃO AO VIVO (ou, simplesmente, AO VIVO) é um perfeito equivalente exato. É chique dizer: "vamos fazer uma live hoje à noite". Que desprezo para com nosso riquíssimo acervo linguístico! Daqui para frente, – sobretudo, como tradutor(a) –, você deveria insistir em usar: "vamos fazer uma transmissão ao vivo hoje á noite".

Existem alguns anglicismos, no entanto, que ultrapassam todos os limites do estrangeirismo aceitável. São inúmeros, mas vou citar apenas alguns. Por exemplo:

OUTDOOR

Há muito, muito tempo que os brasileiros usam o termo OUTDOOR para se referir a cartazes enormes colocados em locais estratégicos (geralmente, ao longo de avenidas movimentadas) anunciando qualquer tipo de bem ou serviço.
Alguém gostou desse termo e passou a usá-lo – pasmem! – como se fosse equivalente a

BILLBOARD

O termo inglês OUTDOOR nunca foi e não é usado por falantes nativos como sinônimo de BILLBOARD.

O mesmo aconteceu com o termo BOX, aportuguesado para BOXE e usado para referir-se ao compartimento de um banheiro onde fica o chuveiro. Se você estiver em algum país de língua inglesa e quiser fazer qualquer referência a esse compartimento, por favor, não caia no ridículo usando o termo BOX – com certeza, você vai passar vergonha! O termo correto em inglês é:

Shower stall

(omq shower cubicle | shower cabinet | shower enclosure)

Fonte: AVRO dx

Quão gracioso para com a língua portuguesa seria se todos passassem a usar CABINE DE CHUVEIRO.

Outro anglicismo absurdo que é usado, praticamente, por quase toda a população brasileira é o termo inglês

PIERCING

Em inglês, PIERCING é um termo classificado, gramaticalmente, como adjetivo e, como tal, precisa de um substantivo ou complemento. Usado sozinho, significa PERFURANTE ou algo que fura ou que penetra. Se for usado como substantivo, significa PERFURAÇÃO ou FURO. Porém, quando algum falante nativo quer se referir ao anel utilizado como adorno em nariz, orelha, sobrancelha ou outra parte do corpo, a expressão correta é

PIERCING RING

que pode ser acrescida do termo identificador do local em que o anel é colocado, por exemplo, EAR PIERCING RING ou, de forma abreviada, EAR RING. O mesmo acontece quando o anel é usado na boca: LIP PIERCING RING ou, de forma abreviada, LIP RING. Porém, NUNCA, nunca mesmo, alguém usaria o termo PIERCING sozinho para se referir ao

ANEL PERFURANTE

que é a tradução correta e equivalente exato de PIERCING RING. Assim como em inglês, podemos usar anel de nariz, anel de sobrancelha, anel de lábio e assim por diante. Essas expressões em português são prontamente entendidas por qualquer um!

Portanto, já passou da hora de devolvermos esses termos para seus legítimos donos e, a partir de agora, passarmos a usar termos próprios de nosso riquíssimo vernáculo, em vez de, desnecessáriamente, continuarmos reproduzindo e perpetuando anglicismos cabotinos!

Por fim, vale ressaltar que anglicismo rima com cabotinismo e exibicionismo, dois termos que podem, muito bem, explicar por que centenas de termos em inglês não têm sido traduzidos para português no Brasil. Quer dizer, usar um anglicismo é mais chique... mesmo que, por trás de seu uso, nossa língua portuguesa seja apunhalada pelas costas!ss

Tradutores – atenção! – vocês, em especial, devem levantar essa bandeira em suas traduções.

O dicionário exaustivo Inglês-Português-Inglês AVRO dx tem como missão (a exemplo do que fazem nossos irmãos de Portugal) privilegiar a língua portuguesa no que diz respeito a definir em português os equivalentes de termos e expressões da língua inglesa mesmo que, em alguns casos e por questões óbvias, o termo estrangeiro seja incluído como última opção.

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