Tradução Feita Por Humanos versus Tradução Feita Por Código Escrito por Humanos.

As Diferenças Entre Conteúdo Produzido e Conteúdo Compilado.

Quais as diferenças entre conteúdo produzido por humanos e conteúdo meramente compilado de fontes de terceiros por códigos que não utilizam qualquer critério para determinar a exatidão do conteúdo?

A primeira delas é que um conteúdo produzido – que exigiu planejamento, criatividade, esforço, pesquisa, dedicação e dias, meses ou anos de trabalho – pertence a alguém e, portanto, é protegido pela lei dos direitos autorais ou, pelo menos em tese, deveria ser.

Geralmente, conteúdos dessa natureza, são pautados pelo compromisso de oferecer dados confiáveis e exatos e, por conseguinte, na maioria dos casos, não são disponibilizados gratuitamente. Pense nisso! Afinal de contas, é justo um ou mais pesquisadores comprometidos com precisão e exatidão passarem anos e anos produzindo conteúdo confiável e não cobrar pelo uso desse conteúdo?

Diferentemente do conteúdo produzido, o conteúdo compilado é uma coletânea de informações extraídas de inúmeras fontes que, depois de indexadas, são transformadas em uma base de dados para consulta.

Porém, essas bases de dados, não são produzidas por humanos, mas, sim, por códigos escritos por humanos. Em vista disso, essas fontes de consulta não podem garantir precisão ou confiabilidade dos resultados. É por essa razão que nenhuma pessoa ou empresa que gera conteúdo compilado de terceiros poderá exigir direitos autorais. Isso é verdade, por exemplo, no caso dos assim chamados 'tradutores eletrônicos', razão pela qual, na maioria dos casos, conteúdos compilados são disponibilizados gratuitamente.

Se alguém cobrar pelo uso de conteúdo que não foi produzido, mas que foi extraído gratuitamente de fontes de terceiros, então, esse alguém estará bancando o Tiradentes com o pescoço de outro e isso é algo sério!

Como São Gerados os Conteúdos Compilados?

A pessoa ou empresa que se propõe a gerar conteúdo compilado, por exemplo, um tradutor eletrônico, desenvolve um código ou algoritmo de computador extremamente complexo, utilizando o que é chamado de 'rede neural' capaz de usar estatística aplicada para tratar quantidades gigantescas de dados.

Esse sistema computacional envia um comando ou 'robô' que percorre a inteira rede mundial de computadores e extrai todo tipo de conteúdo de sítios cujo acesso é franqueado ao público em geral. Depois de coletados e compilados, esses dados são tratados, indexados e, finalmente, são usados como a base de pesquisas do tradutor eletrônico.

Esses códigos computacionais que são usados como tradutores eletrônicos têm sido, cada vez mais, aperfeiçoados e sua capacidade de identificar padrões tem atingido níveis nunca antes imaginados. Segmentos simples e canônicos dos principais idiomas podem ser, prontamente, identificados por esses códigos. Porém, nenhum tradutor humano pode esperar se tornar mais preciso em suas traduções ao decidir usar tradutores eletrônicos. Por quê?

A diferença insofismável entre tradução feita por humanos e tradução feita por códigos escritos por humanos.

Perceptivelmente colossal, essa segunda diferença tem a ver com o que a mente humana é capaz de realizar. Até o presente momento, a mente humana é a única fonte de atividade psíquica e intelectual capaz de concatenar ideias e usar raciocínio lógico para transcrever um texto de um idioma para outro, preservando as mesmas ideias, ou seja, utilizando equivalentes exatos no idioma-alvo. O dicionário exaustivo da língua inglesa 'Random House' define o termo 'raciocínio' como "the process of forming conclusions, judgments, or inferences from facts or premises". Não há outra fonte que consiga essa proeza, a não ser a mente humana!

Não queremos dizer com isso que os códigos criados por humanos para fazer traduções não têm seu valor, pois, conforme salientado acima, têm e conseguem feitos nunca antes imaginados. Porém, não podem, de forma alguma, ser equiparados à mente humana. Vejamos, na prática, como isso pode ser comprovado.

TIRA-TEIMAS

Para o tira-teimas, foram usados apenas dois códigos de tradução a quem vamos chamar de "C1" (o código mais antigo de todos) e "C2" (o código que tem sido aclamado como a sensação do momento).

Temos inúmeros exemplos, mas vamos citar apenas alguns. O que está em jogo nesse tira-teimas é aquilo que, como tradutores, consideramos como fundamento precípuo de toda e qualquer tradução, a saber, a exatidão.

Aquilo é um pau-d'água de marca maior.

C1: That's a bigger brand water stick.

C2: That is a big-name water stick.

Tradução correta (extraída do AVRO dx): That one's a big-time boozer.

Non-commissioned officer.

C1: Oficial não comissionado.

C2: Oficial não comissionado.

Tradução correta (extraída do AVRO dx): Suboficial.

Com olhos vidrados e dentes cerrados, se arriscou na banguela.

C1: With glazed eyes and clenched teeth, he took the risk without a safety net.

C2: With glazed eyes and clenched teeth, he took a chance on the toothless.

Tradução correta (extraída do AVRO dx): With glazed eyes and clenched teeth, he took a chance and freewheeled downhill.

Dá pra fazer 20 a dúzia.

C1: You can make 20 a dozen.

C2: The phrase "dá pra fazer 20 a dúzia" can be translated to English as "you can do 20 by the dozen." This expression is commonly used to indicate that something is very common, abundant, or easily achievable. It suggests that there is a large quantity or a high availability of something.

Tradução correta (extraída do AVRO dx): I'll let you have a dozen for 20.

Acidente ósseo.

C1: Bone accident.

C2: Em inglês, "acidente ósseo" pode ser traduzido como "bone fracture" ou "bone injury", enquanto "injury" é um termo mais genérico para uma lesão óssea. Ambos os termos podem ser usados para se referir a um acidente ósseo.

Tradução correta (extraída do AVRO dx): Bone marking.

Viu a expressão usada pelo macaquinho alí em cima? Pois, então, não resistimos e pedimos aos dois códigos que a traduzissem. Eis o resultado:

C1: People of God, this was chipping.

C2: People of God, that was tough.

Hilário? Bem, felizmente, recorremos ao AVRO dx e a tradução correta é: Good grief! I just can't believe it!

Por Que os Códigos Falham ao Tentarem Traduzir Textos Complexos?

Vamos usar um exemplo clássico para responder a essa pergunta.
Em inglês, nem sempre a preposição "TO" é usada como partícula do infinitivo (chamada em inglês de "ordinary sign of the infinitive"). Por exemplo, "TO" pode ser usada da mesma forma que "À" em português. Veja a frase a seguir.

To order and blank endorsed bill of lading.

À primeira vista, parece que a estrutura da frase acima está errada. Foi essa a impressão que você teve?

Como saber se a preposição "TO" na frase acima é a partícula que acompanha o infinitivo de verbos em inglês e, portanto, não é traduzida em português, ou se é a preposição "A" com crase? Conforme destacado mais abaixo, isso só é possível com

análise, meditação e profunda reflexão.

Os códigos de tradução não são capazes de reproduzir esse feito grandioso, inerente apenas e tão somente – pelo menos, por enquanto – à mente humana!

Pedimos aos dois códigos utilizados no tira-teimas que traduzissem a frase em questão e, pronta e gratuitamente, forneceram o seguinte resultado:

C1: Para solicitar e em branco conhecimento de embarque endossado.

C2: Para solicitar e preencher uma carta de porte endossada em branco.

Recorremos ao AVRO dx e a tradução correta é:

Conhecimento de carga à ordem e endossado em branco (somente o embarcador pode retirar a mercadoria no porto de descarga = only the shipper can claim goods at the port of discharge).

A que conclusão chegamos?

Se a locução for 'o livro está sobre a mesa', os dois códigos do tira-teimas não têm a menor dificuldade em fornecer uma tradução correta. Por quê? Porque todos os tradutores eletrônicos conseguem fazer traduções corretas quando a locução tem como base a ordem canônica de uma frase, a saber, SUJEITO, VERBO, OBJETO. Mas, quando a coisa fica preta... aí, sim, a diferença é gritante e o 'bicho pega'.

A propósito, a questão da exatidão ficou muito transparente quando pedimos aos dois tradutores eletrônicos que traduzissem essa expressão idiomática amplamente usada no Brasil (para facilitar a vida dos dois códigos, evitamos pedir que traduzissem a forma mais coloquial dessa expressão que é 'aí, o bicho pega de com força').

Aí, o bicho pega com força.

C1 gerou a seguinte tradução:
there, the animal takes it with force.

Sem oferecer nenhum equivalente exato, C2 explicou:
Aí, o bicho pega com força" translates to "There, things get really tough" or "There, things get intense." It conveys the idea that the situation becomes even more challenging or difficult, emphasizing the severity or intensity of the circumstances.

Tradução correta (extraída do AVRO dx): that's when the shit hits the fan.

Observe que uma coisa é explicar o que a expressão significa no idioma-fonte, assim como fez C2 – provavelmente, numa demonstração de algum tipo de afetação – em vez de, simplesmente, contemplar uma declaração de reconhecimento de sua limitação, por exemplo, "não foi encontrado nenhum equivalente exato para esse verbete (essa expressão) em nossa base de dados". Outra coisa muito diferente é oferecer a TRADUÇÃO correta que expressa, exatamente, o mesmo sentido do original, ou seja, um equivalente exato.

Em ambos os casos, tanto C1 quanto C2 falharam grotescamente em oferecer uma tradução exata da expressão. Em português, o equivalente da expressão inglesa "and things get tough" seria "e as coisas vão mal" (extraído do AVRO dx sob o verbete relacional "when things go wrong/when things get tough").

Em suma, códigos escritos por humanos (apelidados de tradutores eletrônicos, ou seja, máquinas disfarçadas de humanos) não pensam, não raciocinam, não concatenam (isto é, não "estabelecem relação entre elementos segundo certo critério ou certa sequência lógica" [dicionário Aulete da língua portuguesa publicado no Brasil] ou não "estabelecem relação ou sequência lógica entre ideias ou argumentos" [dicionário Priberam da língua portuguesa publicado em Portugal]), não têm raciocínio lógico, não ponderam e – aqui chegamos ao clímax da limitação dos códigos escritos por humanos – não conseguem meditar. O verbo 'meditar' é definido pelo dicionário Houaiss (publicado no Brasil) como "entregar-se a profundas reflexões".

Vale lembrar que podem ocorrer erros ou inconsistências em conteúdos produzidos por humanos e quando isso ocorre, geralmente, se não são identificados por seus próprios autores, são apontados por terceiros (usuários, assinantes, leitores, etc.). A grande diferença em casos assim é que qualquer inconsistência no conteúdo produzido por humanos pode ser pronta e rapidamente corrigida pelos seus produtores, ao passo que os códigos – engessados como são –, não corrigem seus próprios erros.

Portanto, a conclusão a que chegamos é que ainda existe uma diferença substancial – por que não dizer gigantesca – entre tradução feita por humanos que escrevem códigos e tradução feita por códigos escritos por humanos. Por quê?

Porque o conteúdo compilado pelos códigos não são produzidos para atender a determinado objetivo. São meramente compilados, copiados de terceiros e, portanto, passíveis de entregar dados eivados de erros quando a questão é traduzir ideias de um idioma para outro. São erros que podem conter inconsistências absurdas que, ao serem disponibilizadas pela inter-rede, são disseminadas e perpetuadas por tradutores humanos que não têm o hábito de confirmar a exatidão de termos e segmentos extraídos de outros sítios eletrônicos ou desses mesmos códigos/tradutores. Como assim?

Tradutores desavisados que não se dão ao luxo de apurar a exatidão.

Apenas um único tradutor pode ser o responsável pela disseminação e perpetuação de incontáveis erros de tradução. Basta ele postar em qualquer sítio eletrônico a tradução feita por um tradutor eletrônico contendo erros e inconsistências gramaticais, estruturais e culturais.

Assim que dezenas ou centenas de outros tradutores – de forma crédula – copiarem esse conteúdo e começarem a disseminá-lo pela rede mundial de computadores, não há mais como deter essa avalanche de informações inexatas que acaba atingindo a massa crítica. Por não terem passado por nenhum crivo humano, são propagadas indiscriminadamente como verdadeiras e confiáveis.

Por outro lado, o uso indiscriminado e não autorizado de conteúdo de terceiros ainda carece de legislação específica no que diz respeito à chamada 'propriedade intelectual digital', pois, mesmo que o conteúdo seja gratuito e contenha erros, ainda assim, ele pertence a alguém.

Portanto, como tradutor ou tradutora, tenha sempre em mente essa máxima: a inter-rede está lotada até a tampa de informações aparentemente confiáveis que, na realidade, são puro lixo.

Para saber mais sobre o AVRO dx, veja o vídeo abaixo.